sexta-feira, 27 de novembro de 2015


Mariana Rocha, Hot Days, 2015.

Agora que chegaram os dias frios, muito frios, antecipando dias ainda mais frios, relembramos os dias quentes do ano que agora termina. Para isso, trazemos um trabalho de Mariana Rocha. A Mariana é uma jovem artista do Porto, onde nasceu e estudou fotografia e artes visuais, primeiro na Escola de Soares dos Reis, depois na Escola Superior Artística do Porto e agora na Faculdade de Belas-Artes, no mestrado em práticas artísticas contemporâneas.


As fotografias reunidas sob a designação de Hot Days foram feitas durante dias ensolarados e quentes do ano de 2015, entre o Norte e o Sul de Portugal, sob um céu azul, em viagens, passeios ou períodos de férias escolares com a sua pequena point-and-shoot Olympus Mju II. Representam, por isso, momentos vividos nesses «dias quentes» e assim relembrados. Além disso, essas fotografias espontâneas simbolizam ainda uma dualidade entre sensações quentes e sensações de frescura que se podem observar em cabelos soltos ao vento à janela de um modelo especial de Peugeot 106 (com estofos feitos em ganga) dos anos 90 do século passado, a década em que a Mariana nasceu, e por isso aproximadamente com os mesmos anos, uma gota de suor que escorre pela sua perna, fotografada em casa no calor dos dias de Junho/Julho, uma t-shirt molhada nas costas do namorado em plena Primavera, uma mangueira que rega um jardim nos dias secos do Verão, a sua mão submersa nas águas translúcidas e serenas de uma piscina segurando uma aliança oferecida pelo namorado, o brilho de um fio de pesca numa falésia sobre o mar do Algarve, etc. (Tumblr).

O trabalho da Mariana é, de um modo geral, isso mesmo, uma espécie de álbum de recordações pessoais partilhadas com as pessoas e os lugares da sua vida, autobiográfico, umas vezes intimista outras remetendo para uma ideia de precaridade, umas vezes real outras vezes ficcional. Hot Days tem tudo isso! A vida como projeto artístico!

FJ



Mariana Rocha 



Fotografia Jovem Portuguesa 



  

sexta-feira, 13 de novembro de 2015


Camila Guerreiro, The Wanted. Da série «Feed My Poetry», 2015.


Camila Guerreiro é uma fotógrafa e ilustradora brasileira natural de São Paulo, que se dedica ainda à pintura e relaciona toda a sua criação visual com a literatura. Para ela, as diferentes formas de arte complementam-se. Mas a fotografia tem vindo a assumir um lugar cada vez mais importante entre as suas opções artísticas. Enquanto o desenho e a pintura a obrigam a uma disciplina de atelier, a fotografia permite-lhe sair, ver lugares, encontrar pessoas e falar com elas. É assim que ela realiza a maior parte dos seus trabalhos, sem projetos demasiado elaborados ou ambiciosos, fotografando as pessoas ou as coisas que a rodeiam diariamente ou percorrendo lugares novos, observando e fotografando a vida à sua volta, as pessoas e as suas histórias. Dando e recebendo. Atuando assim, ela integra a fotografia na sua filosofia de vida como algo íntimo, emocional, algo que faz de forma natural, curiosa, poética. Com prazer.

A sua forma preferida de trabalhar é o analógico. Para ela, uma maneira de escrever poesia com as imagens. De todas elas emana um imaginário nostálgico que está, de certo modo, relacionado com o uso da película fotográfica, mas também com momentos que quer recordar, com homenagens que quer prestar às pessoas ou instantes que quer ter para sempre presentes na sua vida. Com efeito, as  suas imagens podem ser consideradas um meio de dádiva e contra-dádiva no sentido da socialização entre pessoas de que nos fala Marcel Mauss. O que a vida e as pessoas nos dão e aquilo que nós temos obrigação de lhes dar está sempre muito presente nas fotografias de Camila Guerreiro.

The Wanted é a fotografia das mãos de sua mãe segurando um ramo de flores e faz parte desse projeto intitulado Feed My Poetry exposto este ano na Galeria NeoGalateca, em Bucareste, na Roménia, a convite da Freya Art, tendo já dado origem a várias publicações e entrevistas da artista a nível mundial. É um trabalho que mostra bem a ligação com as pessoas e os lugares que ela fotografa. Desenvolvido entre o Brasil e a Roménia, o projeto de exposição teve como objetivo estabelecer uma relação entre os dois polos geográficos (a América do Sul e a Europa de Leste) e as duas nações distantes, mostrando um pouco da visão da artista acerca da Roménia com um pouco do Brasil. The Wanted é acerca da sua mãe e fala-nos das tradições, da santidade, do amor, do vínculo que entre elas existe e dos momentos que elas recordam para sempre. Tal como a manhã em que a filha tirou a fotografia, a manhã em que a mãe cantava para ela, como fazia quase todas as manhãs. Como a mãe da Camila é tímida, ela tirou apenas a fotografia das suas mãos, porque queria ter uma recordação desse momento para sempre. A ligação entre mãe e filha vai para além do que nos é dado a ver nesta imagem de amor e ternura e liga-se à história que a viu nascer e irá perpetuar para sempre.

Esta e outras obras de Feed My Poetry, continuamente desenvolvidas pela artista (ver Tumblr), fazem do seu trabalho fotográfico uma coleção de versos colhidos a partir de fragmentos de histórias de vida pessoais que contribuem para o nosso equilíbrio e nos deixam presos à reflexão. Feed My Poetry é assim um projeto intimista entre a artista e as suas “musas”, retalhos da vida que estão na origem de cada poema visual!

FJ

Camila Guerreiro



Fotografia Jovem Portuguesa

sexta-feira, 6 de novembro de 2015



Valter Vinagre, Untitled #07. Da série
 «Rouge, Blue, Mauve et Vert». Kairouan, Tunísia, 2015.

Procurando alargar o espaço das trocas simbólicas que o nosso blogue propõe no âmbito da fotografia contemporânea entre diferentes gerações e diferentes mundos mas que tenham por base a lusofonia, publicamos hoje um trabalho de Valter Vinagre, fotógrafo nascido em Avelãs de Caminho, Anadia, em 1954. Valter Vinagre estudou fotografia no AR.CO, Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, entre 1986 e 1989. Iniciou o seu percurso profissional em finais dos anos 80, realizando exposições individuais e participando em mostras e iniciativas de caráter coletivo. É autor de uma extensa bibliografia, recorrendo ao livro como um meio de divulgação dos seus temas fotográficos. De início ligado a uma fotografia próxima do registo documental, o seu trabalho passou a interiorizar um exercício mais reflexivo sobre a imagem, criando discursos sobre os significados associados à paisagem, à viagem e ao lugar da cidade. O trabalho «Rouge, Blue, Mauve et Vert» resultou de uma residência artística em Kairouan, na Tunísia, em Maio de 2015, a convite da União Europeia, na qual participaram 29 fotógrafos euro-magrebinos. Trata-se de uma viagem intimista em que o autor parte de «uma ideia de destruição, resistência, esperança e fragilidade». Este sábado, 7 de Novembro, inaugura em Kairouan a exposição resultante desta residência artística, «Project Kairouan», comissariada por Leila Souissi. O autor está ainda a preparar um livro que sairá durante o primeiro trimestre de 2016 e a tratar que se realize uma exposição em Tunis.

FJ




Valter Vinagre

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quinta-feira, 5 de novembro de 2015


Carolina Amorim, Virando Pedra, 2014.

O nosso blogue vai chegando a todo o mundo que fala português, visando a troca de saberes e experiências artísticas na esfera da fotografia. O presente artigo é sobre um trabalho da jovem fotógrafa brasileira Carolina Amorim, que, sendo jornalista e pós-graduada em comunicação, trabalha há dez anos como fotógrafa. Atualmente é editora de arte e fotografia na Malagueta Comunicação, empresa especializada em alimentação e cultura. Em 2012 iniciou estudos sobre outras formas da linguagem visual, retornando à fotografia analógica e à revelação por processo artesanal. Desde então, agregou novas técnicas de criação de imagem com a intenção de explorar as potencialidades estéticas do trabalho artístico, como as intervenções manuais com pinturas e costuras sobre a fotografia. O trabalho aqui apresentado, Virando Pedra, faz parte do projeto Painted Images and Hand Sew / Imagens pintadas e costuradas manualmente, e surgiu, precisamente, numa altura em que a artista procurava uma nova linguagem artística para o seu trabalho. Foi, assim, uma das suas primeiras fotografias pintadas à mão com tintas de aguarela. Integra-se numa pesquisa mais extensa sobre a relação do corpo e do tempo na fotografia que conduzirá a artista a outros projetos pessoais sobre esses temas, como o projeto NUances, ainda em desenvolvimento. Numa imponente paisagem pétrea de começo do mundo surge-nos uma figura feminina que parece integrar a paisagem da natureza, mostrando-nos a diferença de escala do corpo humano face ao universo e assim podendo simbolizar toda a nossa existência comum. O trabalho de Carolina Amorim é rico na diversidade de recursos criativos utilizados em cada projeto e na presença de várias linguagens artísticas. Painted Images and Hand Sew é disso um feliz exemplo.

FJ



Carolina Amorim

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domingo, 1 de novembro de 2015


Alice Marcelino, Kindumba - Green Dread, 2015.

Hoje partilhamos o projeto Kindumba, de Alice Marcelino, sobre a linguagem do cabelo. Publicado na revista Caju, em Angola (2015), este trabalho alcançou já um reconhecimento global através da Internet. Alice Marcelino nasceu em Luanda, tendo vindo para Portugal numa idade muito jovem. Por cá viveu a maior parte do tempo. Ao longo da sua vida explorou diversas formas de arte, da dança ao teatro, até descobrir a fotografia como a sua principal forma de expressão. As fotografias de Alice Marcelino refletem o seu interesse especial nas histórias de vida individuais, explorando conceitos de identidade e subculturas, e o seu significado numa sociedade globalizada. Atualmente, Alice Marcelino vive em Londres onde está a concluir a sua formação em fotografia. Segundo a artista (True Africa), «o projeto Kindumba pretendia inicialmente explorar as relações entre Africanos e descendentes Africanos e o seu cabelo. Acabou por se tornar uma celebração da sua diversidade e beleza». É isso que esperamos venham a sentir ao apreciar este trabalho, que foi selecionado para a exposição Belong, Believe, Achieve da UEL - University of East London, inaugurada na passada terça-feira, 27 de Outubro, em Londres!

FJ